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Subject: DOC(K)S_IN_PROGRESS (NATURE_DOC(K)S)

Date: Tue, 2 Nov 2004 15:28:07 -0200

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The city and the aesthetics of progress

 

"The city has the right to progress. I have the right of not enjoying that kind of progress. I have the right of being disapppointed if I can't find there what I used to find".

 

João Cabral de Melo Neto

 

Indifference is the habit of a society that has lost the community sense. Consumism is the moto of progress that turns the city into a passing place, where everything can be destryed abd built at any moment. Stories can be replaced by others without future hope. "The urban form, its supreme reason, that is, simultaneity and meeting people cannot disappear" (Lefebvre). The city might be the biggest window through which daily episodes of material existence are lived and observed within the indifference of money. The fun urban occupation by a dreamy population moved by the matter-of fact way of living the unpredictable, was discarded by the contemporary "polis". The city is the stage for reproduction of money and of the dominant culture, what is discovered or invented disappears at the same speed. The experiences are lived as in a show, urban life is a group of a play scenes. "The shanty-town is the result of the indifference towards the workman existence", (Sergio Bernardes). He is not an actor, neither is his reality virtual.

 

Consuming is important, the ethics of economy.

 

Reality evaporates in the show and at the speed of fashion. The urban man, who is privileged fo having the most efficient machines that help the modenr life, ended up trnsforming the city into a deposit of all kinds of garbage. A deposit of buildings, avenues, automobiles, of the excess of information, of employees and of unemployed people. The autoobile is the most seductive machine of the daily life. If mass transportation did not develop enough, on the other hand, the car has been getting more and more sophisticated in its design, accessories and frills, as if it were a house on wheels, with all the domestic comfort. Life, without any doubt, depends on the car, even orgasm. The production of these machines is stimulated because it generates jobs, taxes, it moves the economy, produces profit, but the number of cars is getting more amd more incompatible with the area of circulation. The changes are as fast as fashion: the natural environment is bring destroyed to make room for more avenues, more parking places and more cars. We have the obligation of consuming not only the product, but also its image, the architecture simulacrum is another urban image used as the symbol of a new society. We live the "triumph of the forgetting our memories, the ignorant drunkenness, amnesia". (Baudrillard)

 

The art in the city, which should be the intervention to restore the poetics denied by money and by consumism, has been repeatedly used, even naively, as an authoritarian image, covering brick-walls, reproducing contradictory images with the urabn scale that disguises the city's visual diversity and privatizes waht once was anonimous, the product of a collective work without signature. The expropriation of the public space, in the name of art, turns the city into a deposit of images that decorate the progress that buried and polutes rivers, devastated green areas, substituted the beauty conquered by the city throughout the years, etc. Why color, or better, why dirty all the corners of the city with images? Why hide the stone constructions, incoporated to the urban memory, with the marks made by time? To embellish the automobiles way? At the same time, these images ignore the speed of sight. It is as if the city did not have a history, it is as if it were abandoned, and its users or dwellers were beings without thinking and memory. Instead of decorating the city and stereotyping individuals, why not plant trees, clena beaches, bring back the natural colors of the city, etc. To restore and clean what was destroyed and dirtied by the ideology of a devastating progress? This would be at least an exercise of citizenship, what is lacking in the urban environment.

 

The urban man is a consumer of products and images, of leisure and sex.

 

The modern speed is strangely associated to the waste of time of moving around and burocracy. If today one can spend one or two hours in a traffic-jam, everybody is sure, tomorrow it will be worse. Consuming is important, its the ethics of the city economy. Progress is merely the possibility of consuming more. "If human beings can't tell the difference between ugly and beautiful, tranquility and noise, it is because they no longer know the essential quality of freedom, of happiness," (Herbert Marcuse). Copying and homogenizing leads to depauperation. In a shelter with a few square meters, surrounded by appliances, the urban man watches everything, in his freedom of not going anywhere and with the happiness of not getting involved with anything. The same culture that invented the beauty of silicone has the crowd, the traffic, the publicity and the tourist as the performance of the reality that disguises the city and its social and cultural compromise.

 

The urban man is a products, images, leisure and sex consumer. He ends up accepting the images imposed by his look, at the same way he believes in the 'whitest of the whitest' of the soap advertisement. So, some doubts about these urban aesthetics experiences appear, about its capacity of enriching the daily life. The interventions repeat themselves as a virus in the urban fabric and the city ma, brought up to consume the images of progress, lost the cultural curiosity. There is a passive acceptance, the same way one breathes carbon monoxide as something necessary in the cities. Excess creates emptiness. And before repetion and emptiness, the first exotic image that stands out of the monotony of the landscape distracts the look of the ones who passes in a hurry, without time to dedicate to his thoughts.

 

English Version: Rosa Campos

 

Almandrade

 

 

 

 

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A CIDADE E A ESTÉTICA DO PROGRESSO

„A cidade tem o direito de progredir. Eu tenho o direito de não gostar daquele tipo de progresso. Tenho o direito de ficar decepcionado se não encontro lá, aquilo que eu antes encontrava.‰

 

(João Cabral de Melo Neto)

 

 

 

 

 

 

O culto da indiferença é o hábito de uma sociedade que perdeu o sentido de comunidade. O consumo é a locomotiva do progresso que faz da cidade um lugar passageiro, onde tudo pode ser destruído e construído a qualquer momento, as histórias são substituídas por outras sem perspectiva de futuro. „A forma do urbano, sua razão suprema, a saber, a simultaneidade e o encontro, não podem desaparecer‰ (Lefebvre). A cidade é talvez a maior vitrine, onde os episódios cotidianos da existência material são vividos e observados na indiferença do capital. A ocupação divertida do urbano, por uma população sonhadora movida pelo acaso de viver o imprevisível, foi descartada da „polis‰ contemporânea. A cidade é o palco da reprodução do capital e da cultura dominante, onde tudo se descobre ou se inventa, e se apaga na mesma velocidade. Tudo é vivido na condição de espetáculo como se a vida urbana fosse um conjunto de cenas de teatro. „A favela é fruto da falta de observação de que o operário existe,‰ (Sérgio Bernardes). Ele não é um ator nem sua realidade é virtual.

 

 

 

 

A realidade se evapora no espetáculo e na velocidade da moda. O homem urbano, privilegiado por possuir as mais eficientes máquinas que facilitam a vida moderna, acabou fazendo da cidade um depósito de todo tipo de lixo. Depósito de prédios, de avenidas, de automóveis, do excesso de informações, de empregados e desempregados. O automóvel é o mais sedutor aparelho do seu cotidiano. Se o transporte de massa não teve uma evolução desejada, o automóvel; ao contrário, vem se sofisticando no design, nos acessórios e nos adornos, como se fosse uma habitação sobre rodas, dotado dos confortos domésticos. A vida, sem nenhuma indagação, depende do automóvel, até o orgasmo. A produção dessas máquinas é estimulada porque gera empregos, impostos, movimenta a economia, produz lucros, mas o número de automóveis é cada vez mais incompatível com o espaço de circulação. As mudanças são rápidas como a moda, o ambiente natural vai sendo destruído para dar lugar a mais avenidas, mais garagens e mais automóveis. Somos obrigados a consumir não só o produto, mas também a sua imagem, o simulacro da arquitetura e uma outra imagem urbana como símbolo da nova sociedade. O „triunfo do esquecimento sobre a memória, a embriaguez inculta, amnésia‰. (Baudrillard)

 

A velocidade moderna está estranhamente associada com as perdas de tempo nos deslocamentos e na burocracia. Se hoje se passa uma ou duas horas nos congestionamentos do trânsito, ninguém tem dúvida, amanhã vai ser pior. O importante é o consumo, a ética da economia da cidade. O progresso nada mais é, do que a possibilidade de ampliar o consumo. „Se os seres humanos já não sabem distinguir entre o belo e o feio, a tranqüilidade e o barulho, é porque já não conhecem a qualidade essencial da liberdade, da felicidade,‰ (Hebert Marcuse). A repetição e a homogeneização levam ao esgotamento. E no refúgio de alguns metros quadrados, cercados de aparelhos, o homem urbano assiste a tudo, na liberdade de não sair do lugar e com a felicidade de não se envolver com nada. A cultura que inventou a beleza do silicone, tem a multidão, o trânsito, a publicidade e o turista como performance da realidade que disfarça a cidade e seu compromisso com o social e o cultural.

 

A arte na cidade que deveria ser a intervenção para restaurar a poética negada pelo capital e pelo consumo, em muitos momentos vem sendo utilizada, (até ingenuamente), como imagens autoritárias, encobrindo muros e alvenarias, reproduzindo imagens contraditórias com a escala urbana que mascaram a diversidade visual da cidade e privatiza o que antes era anônimo, produto de um trabalho coletivo, sem assinatura. A expropriação do espaço público, em nome da arte, faz da cidade mais um depósito de imagens que enfeitam o progresso que enterrou e poluiu os rios, devastou as áreas verdes, substituiu a beleza que a cidade conquistou com o passar do tempo, etc. Por que colorir, ou melhor, sujar de imagens todos os cantos da cidade? Por que esconder as alvenarias de pedras, incorporadas à memória urbana, com as marcas fixadas pelo tempo? Para embelezar o caminho do automóvel? Ao mesmo tempo, imagens que ignoram o olhar da velocidade. Até parece que a cidade não tem história, é um território abandonado e seus usuários ou moradores são seres desprovidos de razão e memória. Por que em vez, de decorar a cidade e massificar os sujeitos/urbanos, não se plantar árvores, limpar praias e praças, devolver a cor natural da cidade, etc. para restaurar e limpar o que foi destruído e sujo pela ideologia de um progresso devastador? Seria no mínimo um exercício de cidadania, tão carente no meio urbano.

 

O homem urbano é um consumidor de produtos e imagens, de lazer e de sexo. Ele acaba aceitando as imagens impostas ao seu olhar, da mesma forma que acredita no branco mais branco da publicidade do sabão em pó. Surge então a dúvida sobre essas experiências estéticas lançadas no urbano, sobre sua capacidade de enriquecer a vida cotidiana. As intervenções vão se repetindo como um vírus no tecido urbano, e o homem das cidades educado para consumir as imagens do progresso, perdeu o desejo de uma curiosidade cultural. Há uma aceitação passiva da mesma forma que se respira o monóxido de carbono como um mal necessário das cidades. O excesso de significantes cria um vazio de sentido. E diante da repetição e do vazio, a primeira imagem exótica que se destaca na monotonia da paisagem, diverte o olhar de quem passa apressado sem tempo para se dedicar ao pensamento.

 

Almandrade

(artista plástico, poeta e arquiteto)

 

 

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